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Oração e Submissão

Oração e Submissão

O reformador João Calvino, enquanto ensinava a respeito da oração, orientou sabiamente o cuidado que nós devemos ter quando nos achegamos ao Senhor Todo-Poderoso. Suas palavras foram de prudência e submissão:

 

“Lembremo-nos de como esta oração nos ensina a não impor a Deus nenhuma lei ou condição, mas que sujeitemos tudo ao seu beneplácito, a fim de que ele faça tudo da maneira, na ocasião e no lugar que lhe pareçam bem”.

 

Como o ensino de Calvino difere dos muitos pastores de nosso tempo, pois enquanto se alastra uma terrível onda de teologia da prosperidade, em que o homem passa a ser o senhor absoluto e Deus um mero empregado que deve satisfazer os desejos daqueles, Calvino via Deus como Deus e o homem como homem. Essa é a maneira em que toda a humanidade precisa enxergar as coisas. Nós só oramos porque estamos confiantes de que ha um Deus nos céus que pode todas as coisas. Oramos porque sabemos que Deus, caso queira, pode atender nossa suplica, confirme sua benevolência e graça e não porque merecemos qualquer coisa de suas mãos. Contudo, o quadro caótico estabelecido pelo neopentecostalismo tornou Deus um servo do homem, cuja tarefa consiste em atender os desejos deles.

As orações que temos ouvido em nossos dias são aquelas onde o homem, que deveria se submeter a todas as determinação de Deus, passa a determinar o que Deus tem que fazer. Enquanto que o homem piedoso orava dizendo: “Senhor eu preciso de um trabalho para que possa sustentar minha família, porém, Senhor, faça como Tu queres. Que a tua vontade prevaleça sobre a minha…”, o homem louco, servo da prosperidade, não ora, mas fala com Deus assim: “Eu determino que o Senhor me dê um emprego, não um simples emprego, mas um emprego onde eu possa ganhar tão bem que nada me falte… eu determino agora!”.

A oração neopentecostal é a oração do homem louco, que não teme tratar a Deus como se fosse um servo seu e não o Criador e sustentador do universo. É a oração blasfema, a oração maldita e cheia de pretensão -pecaminosa, cuja única resposta será a reprovação divina. Aquele que ora dessa forma jamais está disposto a se submeter à vontade do Todo-Poderoso e jamais vai aceitar as coisas diferentes daquilo que ele espera. Deus é apenas um meio para que ele alcance o que seu estômago deseja devorar.

Quanta diferença há entre estes dois modelos de oração. Estas duas orações revelam como cada uma dessas pessoas ver Deus. O primeiro coloca-se como servo, e humildemente faz sua súplica, mas submete-se, antes, à vontade soberana de Deus. Este entende que Deus é o Senhor e o Soberano da terra. Vê-se a si próprio como um pecador imerecido, que não tem o direito de falar com Deus de outra forma, se não com a cabeça baixa e sempre pronto pra aceitar a sua vontade. O outro sente-se como se Deus fosse seu escravo, e tivesse a obrigação de satisfazer todos os seus desejos. Ele acha-se merecedor e até mesmo acredita que pode exigir de Deus alguma coisa. Ele não se vê como um grande pecador, mas como alguém que tem direitos para com Deus.

Observemos os conselhos deste sábio pastor do século XVI. Nunca imponha a Deus nenhuma condição, como se o Senhor estivesse submisso a nós mesmos. Isso é um grave pecado contra Deus. Antes, sujeitemo-nos, por completo, à vontade de Deus, seja ela qual for. Jamais devemos exigir a Deus que faça aquilo que lhe pedimos. A verdadeira oração é cheia de humildade e de um-senso de total dependência.

Voltemo-nos sempre a Deus, com o nosso coração sempre pronto a aceitar aquilo que ele tem preparado para nós. Louvando-o por tudo que recebemos de suas mãos, e humildemente reconhecendo que ele é sábio e sempre age em favor daqueles que ele ama, pois “todas as coisas cooperam para bem daqueles que amam a Deus.”

Marcus Paixão é pastor da Igreja Batista Bom Samaritano, em Teresina (PI). É fundador do Curso de História e Teologia Batista (CHTB); mestre em teologia pastoral pelo Seminário Servo de Cristo (SP) e Bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico do Nordeste - STNe (PI). Formado em História na Universidade Estadual do Piauí - UESPI. É escritor e autor de livros nas áreas de história e teologia.